Cresce em todos os estados brasileiros a busca por investimentos em infraestrutura. Na falta da devida aplicação de tributos, como a CIDE, o governo está apontando para os investimentos privados como solução para o problema específico das estradas.
Não parece má idéia, mas vamos aos números. Numa análise sem rigor cientifico, utilizando como exemplo uma concessionária da qual eu costumava ser cliente - a Via Lagos, no Rio de Janeiro - posso facilmente ver, no própria site da empresa, que passam pelo trecho uma média de 11 mil veículos por dia, com picos de até 55 mil no verão e feriados prolongados. Além disso, posso constatar que as tarifas de pedágio variam entre R$ 7,50 e R$ 45,00, para o trecho de 22 km. Numa conta simples, utilizando os valores mais baixos, suponho que a empresa arrecada, por dia, algo em torno de R$ 82.500,00 (= 7,50 X 11.000), ou R$ 30.112.500,00, por ano.
Considerando, hipoteticamente, que a empresa tenha custo operacional de R$ 12.000.000,00, por ano e, de acordo com o site estradas.com.br, que o tempo de concessão é de 25 anos e que o total investido foi R$ 150.000.000,00. Posso calcular que os gastos em 25 anos serão de R$ 450.000.000,00 (= (25 X 12.000.000,00) + 150.000.000).
Os ganhos, por outro lado, serão de R$ 722.700.000,00 (= 25 X 30.112.500), o que garante um lucro de R$ 272.700.000,00, para os 25 anos de concessão, ou cerca de R$ 11.000.000,00, por ano. Na linguagem do mercado financeiro, para um investimento de R$ 150 milhões, o "negócio" garante um retorno de mais de 180%, em 25 anos. E tudo isso, partindo de uma estrada que já estava pronta, já tinham público cativo e como exposto no início, costuma receber cinco vezes mais carros no verão e nos feriados. E mais, caminhões podem pagar até R$ 45, para trafegar nesta mesma rota, o que garante também uma receita maior do que o mínimo previsto em meus cálculos.
Vale reforçar que as estradas privatizadas mornalmente são aquelas que dão maior lucro, ficando para o governo o problema das demais rotas. E esta situação retira qualquer argumento de que os impostos pagos pelas concessionárias geram uma grande vantagem para a Administração Pública.
É claro que as empresas concessionárias, com as belas estradas que administram, vão dizer que seu lucro é menor. Por outro lado, os Administradores públicos vão insistir que não têm dinheiro. Mas o simples fato, de um simples cálculo, poder indicar um lucro de mais de 100%, para uma atividade que poderia ser prestada pelo serviço público, sem o objetivo de lucro, chama a atenção para a necessidade de discutir o assunto.